quinta-feira, 26 de novembro de 2009
ALGUÉM
segunda-feira, 25 de maio de 2009
MEU AMOR VERDADEIRO
sexta-feira, 22 de maio de 2009
JOSÉ
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?
e agora, você ?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José ?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José ?
E agora, José ?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora ?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José !
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, pra onde ?
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Only A Dream In Rio (tradução) - James Taylor
Mais do que uma terra distante
Além de um mar brilhante
Mais do que o verde úmido
Mais do que os olhos brilhantes
Bem, eles me dizem, que é apenas um sonho no Rio
Nada poderia ser, tão doce quanto parece
Neste primeiro dia aqui
Eles me lembram: "Filho, você já esqueceu ?"
"Geralmente, o estragado está por dentro ...E o disfarce, logo cai"
Gosto estranho de uma fruta tropical
Lingua romântica dos portugueses
Melodia, numa flauta de madeira
Samba, flutuando na brisa do verão
Está tudo bem, você pode ficar dormindo
Você pode fechar os olhos
Você pode confiar no povo do paraíso
Para chamar o seu acompanhante
E lhe transmitir suas despedidas
Que noite maravilhosa, uma em um milhão
Fogo frio, estrelas brasileiras
Oh santo cruzeiro do sul
Mais tarde, me levam para a cidade numa lata
Não posso descer do palco
E não me surpreendo, quando eles dizem:
QUANDO A NOSSA MÃE ACORDAR / ANDAREMOS AO SOL
QUANDO A NOSSA MÃE ACORDAR / CANTARÁ PELO SERTÃO
QUANDO A NOSSA MÃE ACORDAR / TODOS OS FILHOS SABERÃO
TODOS OS FILHOS SABERÃO E REGOZIJARÃO
Alcançado pelos raios do sol nascente
Ao correr da arma do soldado
Gritando alto, no meio da multidão zangada
O suave, o selvagem e a criança faminta
Eu lhe digo: "Existe mais do que um sonho no Rio"
Eu estava lá naquele dia
E meu coração voltou a viver
Havia mais
Mais do que as vozes cantantes
Mais do que rostos me olhando
E mais do que olhos brilhando
Mas, é mais do que o olho brilhando
Mais do que o verde úmido
Mais do que as montanhas escondidas
Mais do que o Cristo de concreto
Mais do que uma terra distante
Além de um mar brilhante
Mais do que uma criança faminta
Nascido de um milhão de anos
Mais do que um milhão de anos
segunda-feira, 13 de abril de 2009
O GRITO DA CRUZ
(Salmo 22. 1)
Há dois mil anos atrás ouviu-se um grito vindo de um monte. Ouviu-se um grito que vinha do Gólgota, lugar da Caveira. Ouviu-se um grito. Ouviu-se um grito de angústia. Um grito de abandono. Um grito que dizia: “Por quê? Por que Deus meu? Por que me desamparaste? Por que me abandonaste? Por quê?”. O grito próprio de um sofredor reto. Um grito de solidão. Um grito que pedia por uma presença. Um grito que pedia a presença de Deus. Onde está a presença que Deus havia prometido? Onde está o Deus que havia prometido estar conosco? Onde está Deus? Por que me desamparaste? O grito persiste, insiste. Era o grito de Jesus. O grito que conheceu a realidade de um abandono total. Era o grito de um inocente. O grito de Jesus pelos pecados da humanidade. Era o grito da cruz. Era o grito do amável Jesus.
sexta-feira, 27 de março de 2009
Olá Amigo, eu também estou ferido…
Estava chovendo. São Paulo é um terra gélida no inverno. Manhã chuvosa e fria. Tudo começou na estação do metrô Santa Cruz há 3 anos atrás. Naquele dia encontrei um grande amigo. Um amigo que foi meu parceiro e conselheiro. Ele não estava feliz. Seu rosto pálido e melancólico demonstrava dor e revolta. Uma dor cravada no interior do coração. Dor produzida por pessoas que ele tanto amou. Dor produzida por pessoas que se diziam “crentes”. Pude enxergar feridas em sua alma, não apenas uma ferida, mas várias. Feridas abertas. Feridas produzidas pelo desvario dos homens.
Seus olhos avermelhados denunciavam noites em claro. Casa vazia, luzes acesas. Lágrimas derramadas. Noites perdidas. Sono inconstante. Ninguém por perto, absolutamente ninguém.
Seu falar embargado externava desabafo. Desabafo incontido por anos. Ninguém o ouviu. Ninguém queria ouvi-lo. Todos lhe viraram as costas.
Por que tanta dor, lágrimas e tristeza?
Ele me respondeu. Depois de anos trabalhando e ofertando na igreja, algumas razões produziram feridas em sua alma:
· a falta de amor;
· o menosprezo;
· a hipocrisia;
· o egoísmo;
· a mentira;
· pastores gananciosos e ostentadores;
· pregações antropocêntricas;
· adoração falsa.
Me disse também da dor em não ver ninguém da sua igreja no enterro do seu pai. Quando desempregado ninguém lhe estendeu as mãos. Seu filho estava com leucemia e veio a falecer, mas sua igreja não se prontificou em cooperar na compra dos remédios. Contou-me tudo, e chorou. Eu também chorei. Não agüentei ver tanta dor. Chorei em saber que às vezes a igreja é tão mesquinha com os seus. Chorei, pois vi uma fé se esvaindo devido o desamor dos “crentes”. Chorei, assim como Jesus chorou quando da morte de Lázaro.
Tentei animá-lo, dizendo: “Continue caminhando. Não olhe para aqueles que se dizem seguidores de Cristo, e não são”. Mas, as minhas palavras não consolaram seu coração. Terminando a conversa, ele disse: “Perdi a fé. Nunca mais voltarei para a igreja”. E então, chorei novamente, e disse: “Amigo, não sei mais o que dizer, pois Eu também estou ferido…”
Teu amigo,
A TENTAÇÃO DE JESUS
segunda-feira, 23 de março de 2009
DECEPCIONADO
quinta-feira, 19 de março de 2009
VIDA SEM VIDA E CORRIDA
Josadaque Martins Silva
A VERDADEIRA FELICIDADE
HORA DE... AGRADECER
A Bíblia nos ensina a importância de darmos graças ao Senhor, em diversos momentos, tal como nos orientou o apóstolo Paulo aos irmãos de Tessalônica: “Em tudo daí graças, porque esta é a vontade em Cristo Jesus para conosco” (I Ts 5.18), assim como o fez quando se dirigiu aos crentes da igreja de Filipos: “...Em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças” (Fp 4.6).
Sendo assim, agradeça a Deus por tudo o que tem feito, pois hoje é dia e hora de... agradecer.
Josadaque Martins Silva
APESAR DE NÃO VÊ-LO
Disseram que Tu és um delírio da nossa imaginação
ORAÇÃO
É falar, é pedir
Poesia
quarta-feira, 18 de março de 2009
Refletindo a vida
Dê sempre o melhor
E o melhor virá...
Às vezes as pessoas são egocêntricas, ilógicas e insensatas...
Perdoe-as assim mesmo.
Se você é gentil, as pessoas podem acusá-lo de egoísta e interesseiro...
Seja gentil assim mesmo.
Se você é um vencedor, terá alguns falsos amigos e alguns inimigos verdadeiros...
Vença assim mesmo.
Se você é honesto e franco, as pessoas podem enganá-lo...
Seja honesto e franco assim mesmo.
O que você levou anos para construir, alguém pode destruir de uma hora para outra...
Construa assim mesmo.
Se você tem paz e é feliz, as pessoas podem sentir inveja...
Seja feliz assim mesmo.
O bem que você faz hoje pode ser esquecido amanhã...
Faça o bem assim mesmo.
Dê ao mundo o melhor de você, mas isso pode nunca ser o bastante...
Dê o melhor de você assim mesmo.
E veja você que, no final das contas...
É entre VOCÊ e DEUS...
Nunca foi entre você e eles!
O QUE É O AMOR?
Vinicius de Moraes
Composição: Vinicius de Moraes / Toquinho / Bacalov
Por céus e mares eu andei
Vi um poeta e vi um rei
Na esperança de saber o que é o amor
Ninguém sabia me dizer
E eu já queria até morrer
Quando um velhinho com uma flor assim falou:
O amor é o carinho
É o espinho que não se vê em cada flor
É a vida quando
Chega sangrando
Aberta em pétalas de amor
Vinicius de Moraes
Reflexão Teológica
Frei Betto
A menina marcava as páginas onde estavam impressas aquelas leis absurdas com a intenção de, mais tarde, arrancá-las. 0 pai explicou-lhe que era inútil, havia muitos outros livros com as mesmas leis. Quisesse mudá-las, teria de convencer as pessoas que faziam leis. Lida por esta ótica, a Bíblia revela a igualdade entre homens e mulheres e denuncia a leitura machista que pretende derivar dos desígnios de Deus instrumentos de dominação, como a interdição de acesso das mulheres ao sacerdócio e ao episcopado, e a preponderância masculina sob o pretexto de que Eva foi criada a partir da costela de Adão — quando a natureza não deixa dúvidas de que todo homem nasce do corpo de uma mulher. O evangelista Mateus aponta, na árvore genealógica de Jesus; cinco mulheres. Tamar, Raab, Rute e Maria; e de modo implícito, a mãe de Salomão, aquela "que foi mulher de Urias". Não é bem uma ascendência da qual um de nós haveria de se orgulhar. Em sua atividade pública, Jesus se fez acompanhar pelos Doze e por algumas mulheres: Maria Madalena; Joana, mulher de Cuza, o procurador de Herodes; Susana e várias outras. Portanto, o grupo de discípulos de Jesus não era propriamente machista. Além disso, Jesus freqüentava, em Betânia, a casa de suas amigas Marta e Maria, irmãs de Lázaro. O primeiro milagre de Jesus foi para atender ao pedido de uma mulher, Maria, sua mãe, preocupada com a falta de vinho numa festa de casamento em Caná. Escolhido por Jesus para ser o "primeiro Papa", Pedro era casado.
Em nosso país, destacam-se Ana Flora Anderson, Teresa Cavalcanti, Wanda Deifelt e Athalya Brenner. O Centro de Estudos Bíblicos (Cebi) há anos forma, pelo Brasil afora, homens e mulheres dos setores populares em novos métodos de interpretação bíblica, pondo fim ao monopólio clerical e machista. Descobrir que a mulher ocupa na Bíblia lugar e importância iguais aos do homem é questionar as igrejas que, às vésperas do terceiro milênio, insistem em reservar aos homens as funções de poder. E, por tabela, subverter os valores desta sociedade que considera a direção política um talento masculino e a questão social um derivativo da primeira dama, e ilustra sua publicidade televisiva e as páginas das revistas com mulheres que se prestam a ser reificadas, reduzidas ao mero apelo de consumo material e simbólico e, no entanto, queixam-se quando tratadas pelos homens como objetos descartáveis.
Frei Betto (Carlos Alberto Libânio Christo),(1945) quando jovem frade dominicano esteve envolvido com as lutas revolucionárias de seu tempo, com a política e a arte. Militante de esquerda, simpatizante da luta armada, se dividia entre os estudos de filosofia, o jornalismo e a assistência de direção de José Celso Martinez Corrêa na histórica montagem de O rei da vela, pelos idos de 1967. É escritor consagrado, com inúmeros livros de sucesso, dentre eles "Fidel e a Religião", coletânea de entrevistas com o líder cubano. O texto acima foi publicado no jornal "O Globo", de 28/07/2000.
Refletindo a vida
Frei Betto
Em tempo de remédios falsificados e laboratórios incompetentes, vale lembrar deste consumidor compulsivo que faz da bula Bíblia: o hipocondríaco. Ele padece do mal de ter mania de doenças e adora tomar remédios. Ao passar à porta da farmácia não resiste e pergunta: "O que tem de novidade?" Nada mais ofensivo ao hipocondríaco do que erguer um brinde e desejar-lhe "saúde!". Ele só freqüenta coquetel de vitaminas. Encara sempre o interlocutor com aquele olhar de quem diz: "ando sentindo coisas que você nem imagina". No telefone, faz voz de vítima. Cara a cara, suplica, silente, a compaixão alheia. Está sempre entrando ou saindo de uma gripe; já tomou todas as vacinas; sofre da coluna; padece de insônia; e trata médico como faz com motorista de táxi: "Tá livre?" O hipocondríaco entra na Justiça exigindo mandado de prisão contra os radicais livres e duvida que alguém possa imaginar o tamanho da enxaqueca que teve ontem. Enquanto outros fazem shopping, o prazer do hipocondríaco é visitar drogarias de vitaminas importadas. Ingere pela manhã o abecedário em drágeas e nunca se deita sem antes tomar um chá de ervas. Hipocondríaco não tem plano de saúde; prefere cota de cemitério. Gosta de se separar da família para morrer de saudades. E fica doente de raiva quando alguém diz que ele aparenta boa saúde. O autêntico hipocondríaco carrega sempre uma dorzinha de lado, uma unha encravada, uma afta na boca, uma irritação na garganta, uma dor na coluna e umas tonturas estranhas. Para o hipocondríaco, esposa ideal é a que banca a enfermeira; cadeira confortável é a de rodas; e cama macia, a de hospital. O hipocondríaco é a única pessoa que, pelo som, distingue sirene de ambulância da de viatura de polícia e de bombeiro. O guru do hipocondríaco é Hipócrates, e sua filosofia se resume nesta questão metafísica: "Se a gente nasce deitado e morre deitado, por que não viver deitado?" O hipocondríaco morre de medo da vida saudável. Está convencido de que a diferença entre o médico e ele é que o primeiro conhece a teoria e, o segundo, a prática. Nunca pergunte a ele: "Vai bem?" É preferível: "Melhorou?" O hipocondríaco só assina revistas médicas e, nos jornais, lê primeiro o obituário. Mas, ao contrário do que se pensa, o hipocondríaco não quer morrer — isto o curaria de sua loucura. Nunca convide um hipocondríaco a matricular-se numa academia de ginástica. Ofereça-lhe um check-up. Os únicos exames que ele aceita fazer são os clínicos e adora ser reprovado. Se faz cooper, a perna dói; se pratica natação, fica resfriado; se flexiona o abdome, sente dor nas cadeiras. O hipocondríaco escuta o médico com a mesma atenção que o bêbado ouve os conselhos do abstêmio. A turma do hipocondríaco se reúne em porta de farmácia e tira férias em clínicas de repouso. O hipocondríaco é o único paciente que consegue decifrar letra de médico. Ele não se recolhe para dormir, e sim para repousar. Nunca deseje "bom-dia" a um hipocondríaco; pergunte: "Levantou melhor?" Aliás, ele não se levanta; tem alta. No aniversário, dê a ele um vidro de remédios. Todo hipocondríaco é viciado em aspirina, vitamina C e melatonina. O hipocondríaco sabe dar nó nas tripas e acredita que o melhor lazer é curtir uma diverticulite. Considera incompetente todo médico que diz que ele não tem nada. O hipocondríaco acredita em tudo que a mídia fala sobre cuidados com a saúde. Quando viaja, não se hospeda; se interna. No bolso de dentro do paletó ele não carrega caneta, mas termômetro. E é a única pessoa capaz de enxergar vírus e bactérias em talheres de restaurantes. Sonho de hipocondríaco é ser socorrido por um daqueles helicópteros UTI que aparecem na TV. E sempre reclama de que já existem telessexo, telepiada, telepizza, telessorteio, só falta o teledoença: você liga, descreve os sintomas e, do outro lado da linha, uma voz de médico prescreve a medicação. Deve ter sido um hipocondríaco quem deu ao remédio que combate infecções o nome de antibiótico — que significa "contra a vida". O hipocondríaco não tem remédio. Ele só se cura quando morre e, paradoxalmente, a morte é o sintoma mais óbvio de que ele tinha razão. Pena que não possa levantar-se do caixão e enfiar o dedo na cara de quem o tratava pejorativamente como hipocondríaco. De qualquer modo, repare como ele, defunto, traz um sorrisinho de vitória nos lábios.
Frei Betto (Carlos Alberto Libânio Christo), (1945) quando jovem frade dominicano esteve envolvido com as lutas revolucionárias de seu tempo, com a política e a arte. Militante de esquerda, simpatizante da luta armada, se dividia entre os estudos de filosofia, o jornalismo e a assistência de direção de José Celso Martinez Corrêa na histórica montagem de "O rei da vela", pelos idos de 1967. É escritor consagrado, com inúmeros livros de sucesso, dentre eles "Fidel e a Religião", coletânea de entrevistas com o líder cubano. O texto acima foi publicado no jornal "O Globo", em 08/98.
quinta-feira, 12 de março de 2009
Reflexão Teológica - I have a dream
Discurso de Martin Luther King (28/08/1963)
Eu estou contente em unir-me com vocês no dia que entrará para a história como a
maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação.
Cem anos atrás, um grande americano, na qual estamos sob sua simbólica sombra,
assinou a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um
grande farol de esperança para milhões de escravos negros que tinham murchado
nas chamas da injustiça. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite
de seus cativeiros.
Mas cem anos depois, o Negro ainda não é livre.
Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da
segregação e as cadeias de discriminação.
Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de pobreza no meio de um vasto
oceano de prosperidade material.
Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade americana e se encontram exilados em sua própria terra.
Assim, nós viemos aqui hoje para dramatizar sua vergonhosa condição.
De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando
os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da
Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota
promissória para a qual todo americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma
promessa que todos os homens, sim, os homens negros, como também os homens
brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis de vida, liberdade e a busca
da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou esta nota
promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo
negro um cheque sem fundo, um cheque que voltou marcado com "fundos
insuficientes".
Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos
recusamos a acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação.
Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de
reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da justiça.
Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o
momento para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranqüilizante do
gradualismo.
Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia.
Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado
pelo sol da justiça racial.
Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial
para a pedra sólida da fraternidade. Agora é o tempo para fazer da justiça uma
realidade para todos os filhos de Deus.
Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este verão
sufocante do legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um
renovador outono de liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um
começo. Esses que esperam que o Negro agora estará contente, terão um violento
despertar se a nação votar aos negócios de sempre.
Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que
conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito,
nós não devemos ser culpados de ações de injustiças. Não vamos satisfazer nossa
sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que
conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos
permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. Novamente
e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física
com a força de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à comunidade
negra que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas,
para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui
hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles
vieram perceber que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa
liberdade. Nós não podemos caminhar só.
E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos
à frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os
devotos dos direitos civis, "Quando vocês estarão satisfeitos?"
Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores
indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto
nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos
motéis das estradas e os hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos
enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um Negro em Nova Iorque
acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não estamos
satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem
abaixo como águas de uma poderosa correnteza.
Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui após grandes testes e
sofrimentos. Alguns de você vieram recentemente de celas estreitas das prisões.
Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade lhe deixaram
marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos de brutalidade
policial. Você são o veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando com a fé que
sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o
Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para
Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte,
sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixe
caiar no vale de desespero.
Eu digo a vocês hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de
hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no
sonho americano.
Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro
significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras
para todos, que os homens são criados iguais.
Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos
descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão
se sentar junto à mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que
transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será
transformado em um oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma
nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu
caráter. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu
governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse
justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com
meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e
montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares
tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne
estará junta.
Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé
nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela
sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar
juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e
quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando
todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado.
"Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto.
Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,
De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!"
E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro.
E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New
Hampshire.
Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York.
Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.
Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado.
Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.
Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.
Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.
Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi.
Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.
E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando
nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda
cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus,
homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos,
poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho spiritual negro:
"Livre afinal, livre afinal.
Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal.
Pr. Martin Luther King Jr.
Otimismo
Dietrich Bonhoeffer
Reflexão Teológica
Cercado em silêncio de fidelidade pelo amparo de Deus,
E, juntos, adentrarmos neste novo ano.
Ah, Senhor, dá às nossas almas feridas a salvação para qual nos preparastes.
Deixe as velas, que tu colocaste em nossa escuridão,
Maravilhosamente amparado por Ti, Esperamos confortados, o que ainda está por vir. Deus está conosco ao anoitecer e pela manhã. E certamente a cada novo dia.
Reflexão Teológica
Paul Tillich
O homem está dividido dentro de si. A vida volta-se contra si própria através da agressão, do ódio e do desespero. Estamos habituados a condenar o amor-próprio; mas aquilo que pretendemos realmente condenar é o oposto do amor-próprio. É aquela mistura de egoísmo e aversão por nós próprios que permanentemente nos persegue, que nos impede de amar os outros e que nos proíbe de nos perdermos no amor com que somos eternamente amados. Aquele que é capaz de se amar a si próprio é capaz de amar os outros; aquele que aprendeu a superar o desprezo por si próprio superou o seu desprezo pelos outros. Mas a profundidade da nossa separação reside, justamente, no fato de não sermos capazes de um grande amor, clemente e divino, por nós próprios. Pelo contrário, existe em cada um de nós um instinto de autodestruição, tão forte como o nosso instinto de autopreservação. Na nossa tendência para maltratar e destruir os outros existe uma tendência, visível ou oculta, para nos maltratarmos e nos destruirmos. A crueldade para com os outros é sempre também crueldade para com nós próprios. Deste modo, o estado de toda a nossa vida é o distanciamento dos outros e de nós próprios, porque estamos distanciados da Razão do nosso ser, porque estamos distanciados da origem e do objetivo da nossa vida. E não sabemos de onde viemos nem para onde vamos. Estamos separados do mistério, da profundidade e da grandeza da nossa existência. Ouvimos a voz dessa profundidade, mas os nossos ouvidos estão fechados. Sentimos que algo radical, total e incondicional nos é exigido; mas rebelamo-nos contra isso, tentamos fugir à sua urgência e não aceitamos a sua promessa.
Paul Tillich, in "És Aceite"
quarta-feira, 11 de março de 2009
Reflexão Teológica
Quem sou? Freqüentemente me dizem que saí do confinamento de minha cela tranqüilo, alegre e firmec omo um senhor de sua mansão de campo. Quem sou? Freqüentemente me dizem que costumo falar com os guardiões da prisão confiada, livre e claramente, como se eu desse as ordens. Quem sou? Também me dizem que superei os dias de infortúnio orgulhosa e amavelmente, sorrindo, como quem está habituado a triunfar.
Sou, na verdade, tudo o que os demais dizem de mim? Ou sou somente o que eu sei de mim mesmo? Inquieto, ansioso e enfermo, como uma ave enjaulada, pugnado por respirar, como se me afogasse, sedento de cores, flores, canto de pássaros, faminto de palavras bondosas, de amabilidade, com a expectativa de grandes feitos, temendo, impotente, pela sorte de amigos distantes, cansado e vazio de orar, de pensar, de fazer, exausto e disposto a dizer adeus a tudo.
Quem sou? Esse ou aquele? Um agora e outro depois? Ou ambos de uma vez? Hipócrita perante os demais e, diante de mim mesmo, um débil acabado? Ou há, dentro de mim, algo como um exército derrotado que foge desordenadamente da vitória já alcancada?
Quem sou? Escarnecem de mim essas solitárias perguntas minhas; seja o que for, Tu o sabes, ó Deus: sou Teu!
Dietrich Bonhoeffer