quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

SEGUINDO ADIANTE



















"As vezes temos que 'passar por cima' de nossa raiva, nosso ciúme ou nossos sentimentos de rejeição e seguir adiante. Somos tentados a ficar presos a nossas emoções negativas como se lá fosse nosso lugar. Então nos tornamos 'o ofendido', 'o esquecido' ou 'o rejeitado'. Sim, podemos nos vincular a essas identidades negativas e até mesmo ter um prazer mórbido com isso. Talvez seja uma boa idéia dar uma olhada nesses sentimentos obscuros e tentar descobrir de onde vêm. Mas então chega o momento de passar por eles, deixá-los para trás e seguir adiante em nossa viagem".

Henry Nouwen

(Pão para o caminho)

UMA GRANDE LIBERTAÇÃO
















Lancei-me ao trabalho de uma maneira que nada tinha de cristã e de humilde. Uma ambição desmedida, que era notada por muitos, dificultou-me a vida e privou-me do amor e da confiança de meus semelhantes. Sentia-me muito só e abandonado naquele tempo. Era uma situação muito ruim. Mas, então, aconteceu algo que transformou a minha vida e lhe deu um outro rumo, até hoje. Pela primeira vez cheguei à Bíblia. Também isso é muito ruim de dizer. Já tinha tinha feito muito sermão, já tinha visto, falado e escrito muito da Igreja - mas ainda não tinha me tornado cristão, antes tinha vivido de modo selvagem e indômito como dono de meu próprio nariz. Sei perfeitamente que usei, naquele tempo, a causa de Jesus Cristo para meu próprio proveito, para satisfazer a minha vaidade louca. Peço a Deus que isso nunca mais aconteça. Também jamais rezara, ou muito pouco. Apesar de toda a minha solidão estava bastante contente comigo mesmo. Desse estado me livrou a Bíblia e, especialmente, o Sermão da Montanha. Desde então tudo mudou. Eu percebi isso claramente, e até outras pessoas que me eram próximas o notaram. Foi uma grande libertação. Tomei consciência de que a vida de um ministro de Jesus Cristo deve pertencer à Igreja e, passo a passo, ficou mais claro para mim que é necessário que seja assim. Veio, então, a aflição de 1933. Ela me confirmou em minha atitude. Passei a encontrar pessoas que se voltavam para o mesmo objetivo. Agora, só me interessava a renovação da Igreja e de seu ministério...
O pacifismo cristão, que eu combatera até então com paixão, revelou-se uma opção óbvia. E assim continuei, passo a passo. Era só o que via e no que pensava...
DIETRICH BONHOEFFER
(Fonte: BONHOEFFER, D. A resposta às nossas perguntas: reflexões sobra a Bíblia. Trad. de A. J. Keller. São Paulo: Loyola, 2008. pp. 12-13)

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O DOM DA VERDADE














Estamos acostumados a ver na religião algo que corresponde a uma necessidade da alma humana e que satisfaz essa necessidade. Algo que deve levar do desassossego da existência à tranqüilidade, da correria à calma. Algo que, da vida profissional diária, nos traz de volta a nós mesmos. Dizemos, então, que a religião é alguma coisa bela, preciosa, necessária à vida. Seria ela a única coisa capaz de fazer o ser humano profundamente feliz.
Enquanto isso esquecemos a pergunta decisiva, se a religião é verdadeira, se ela é a verdade. A religião poderia ser alguma coisa bela sem ser verdade; uma bela ilusão piedosa não deixaria de ser uma ilusão. A luta mais renhida contra a religião deveu-se justamente ao fato de a própria Igreja se manifestar muitas vezes de uma maneira que parece relegar a questão da verdade a um segundo plano. Quem fala assim enxerga a religião somente do ponto de vista do ser humano e de suas necessidades, em vez de vê-la a partir de Deus e de seus direitos. Por isso é importante que a perspectiva fique bem clara e que ouçamos o que diz o Novo Testamento a esse respeito, a saber, que, essencialmente, a religião só quer uma coisa: ser verdadeira. Não é só nas ciências que a verdade é o maior valor, ela o é muito mais e prioritariamente na religião, porque é sobre a religião que pretendemos basear toda a nossa vida. Mas como vou saber se aquilo de que a mensagem cristã fala é a verdade? Nessa questão, a resposta da Bíblia soa estranha: "Se permaneceis na minha palavra, sois verdadeirmante meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade fará de vós homens livres" (João 8. 31s). Não será pela pesquisa científica desimpedida, nem pelo pensamento e pela busca desinteressados, e sim apenas pela tentativa livre de apostar a vida inteira na palavra de Cristo, de viver totalmente com ele e de acordo com ele, de ouvi-lo e de obedecer-lhe. Só quem um dia tiver colocado em jogo toda a sua vida será capaz de julgar se Cristo diz a verdade e é a verdade. E Cristo promete: quem correr o risco conhecerá a verdade. A verdade só pode ser conhecida na vida. E finalmente: a verdade vos fará livres. Esse é o dom da verdade. Quem tem por trás de si o poder da verdade é o homem mais livre. Ele não teme nada, nada o prende. Nenhum preconceito, nenhuma concessão de fraqueza diante de esperanças vãs. O que o prende é uma única coisa: a verdade que é a verdade de Deus que dá sustentação a toda verdade. Quem está com a verdade de Deus é verdadeiramente livre. Deus nos torna livres.
DIETRICH BONHOEFFER
(Fonte: BONHOEFFER, D. A resposta às nossas perguntas: reflexões sobre a Bíblia. Trad. de A. J. Keller. São Paulo: Loyola, 2008, pp. 29-30)