A Proposta de Pedro ou a Proposta de Jesus?
Lucas 9. 28-42
Bispo Robinson Cavalcanti
Introdução
Ouvimos permanentemente muitas propostas, insinuações, sugestões. Escutá-las ou procurar segui-las poderá nos trazer conseqüências positivas ou negativas, podem ser caminhos de vida ou caminhos de morte. Quais são as fontes das vozes que escutamos? Nosso eu interior (imagem de Deus vs. realidade do pecado); a voz de Deus; a voz de satanás, a voz iluminada ou carnal dos outros. Muitas vozes. Profusão de vozes. O Desafio do discernimento.
Quando isso ocorre? Seis dias depois. Mas, seis dias depois do que? O que antecede o fato?
Quando isso ocorre? Seis dias depois. Mas, seis dias depois do que? O que antecede o fato?
a) Aproximadamente oito dias (seis dias, Mateus) depois de Jesus ter chegado a região de Cesareia de Filipe e ter tido um diálogo com os seus discípulos sobre a sua identidade. Quem era ele? Quem era Jesus? Havia uma diversidade de opiniões entre os de fora: João Batista, Elias, algum dos profetas. Assim tem sido a opinião dos homens de todos os tempos e lugares: um guru, um avatar, um revolucionário, um alucinado. Mas, qual era a opinião dos próprios discípulos? E o impetuoso Pedro, servindo como porta-voz, fala em nome do grupo: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Ou seja, “tu és o prometido, tu és o esperado, tu és o que haveria de vir, tu és o Messias, tu és o Ungido, tu és o Salvador”. Seis dias depois que a Pedra angular tinha sido explicitada: “E a Pedra era Cristo”. Jesus Cristo reconhece que Pedro havia falado inspirado pelo céu, e ao entregar o que Martinho Lutero chama de Ofício das Chaves, outorga autoridade à igreja por meio dos discípulos;
b) Aproximadamente oito dias depois de Pedro ter rejeitado, veementemente, o caminho da paixão e da cruz, predito por Jesus, que era também o caminho da ressurreição, a culminação do seu ministério terreno, o centro do seu propósito messiânico. Agora, Jesus reconhece que Pedro não falara inspirado pelo céu, mas induzido por satanás, e aquela pedra agora era uma pedra de tropeço, e é pelo Senhor repreendido;
c) Aproximadamente oito dias depois de Jesus tornar claro o seu projeto de vida para os seus seguidores, o que Bonhoeffer chama de “graça preciosa”: o segui-Lo pelo caminho da renúncia, do tomar a própria cruz, nessa aparente loucura de perder para ganhar em vez de ganhar para perder. Com a promessa do retorno em glória e da recompensa.
d) Aproximadamente oito dias de algo muito profundo e significativo.
Jesus alternava diversos momentos em sua trajetória: ora com as multidões, ora confrontado e confrontando fariseus e saduceus, ora na casa dos amigos, ora com o conjunto dos discípulos, ora com os doze apóstolos, ora sozinho, ora com um grupo seleto, chamado por alguém de “patota santa”: Pedro, Tiago e João, a sua célula. A importância dessa diversidade de situações, para o repouso, para a preparação, e em missão mais restrita ou mais ampla. E Jesus levou seu grupo seleto para um Monte. Moisés, no seu tempo, subira a um Monte para receber a Lei, e fora transfigurado. Jesus sobe ao Monte para receber a Graça, e é transfigurado. Um fato inusitado. O céu chega a terra. A presença clara de Deus junto aos homens. Uma das mais importantes teofanias do Novo Testamento. Não somente a transfiguração que aponta para a transfiguração de todos os convertidos em sua experiência de novo nascimento, e na sua experiência final de glorificação. Mas a presença dos heróis da fé que não conheceram a morte, mas foram trasladados: Moisés e Elias. Os triunfantes que consolam os militantes. E ainda a nuvem santa, a nuvem shekinah os encobre, e o Senhor do Universo fala, glorificando o seu Filho, e ordenando que o escutem. Que tremendo impacto na vida daqueles discípulos: eles ficam aterrorizados, e se prostram. Mas Jesus repreende o seu medo e os levanta.
E aí acontece a proposta de Pedro em contraste com a proposta de Jesus. Pedro estava com medo. Pedro preferia o conforto. Pedro preferia uma religião de moleza, de sombra e água fresca. Pedro preferia ver a vida cristã como um permanente acampamento. Pedro prefere ver a vida cristã como um eterno louvorzão (isso pode ser na Nova Jerusalém, mas, por enquanto...). O texto nos diz que Pedro não sabia o que estava dizendo, ou que estava dizendo uma bobagem. Ele que já falara inspirado por Deus, que já falara induzido por satanás, agora falava pela fragilidade da carne, da natureza humana caída.
Mas, entre o Monte da Transfiguração e o Monte do Sacrifício havia os vales, a serem evangelizados, a serem ministrados, onde os milagres ocorreriam, e pessoas seriam alimentadas física e espiritualmente, onde a verdade seria ensinada, e onde satanás seria confrontado. Ao descerem do Monte, no dia seguinte, ao descerem do silêncio, do retiro e da transfiguração se deparam com uma grande multidão, se deparam com um pai desesperado, se deparam com um jovem possesso. E, depois de repreender a falta de fé, repreende o espírito imundo, cura o menino e o entrega ao seu pai. E todos ficam atônitos com a grandeza de Deus.
E aí acontece a proposta de Pedro em contraste com a proposta de Jesus. Pedro estava com medo. Pedro preferia o conforto. Pedro preferia uma religião de moleza, de sombra e água fresca. Pedro preferia ver a vida cristã como um permanente acampamento. Pedro prefere ver a vida cristã como um eterno louvorzão (isso pode ser na Nova Jerusalém, mas, por enquanto...). O texto nos diz que Pedro não sabia o que estava dizendo, ou que estava dizendo uma bobagem. Ele que já falara inspirado por Deus, que já falara induzido por satanás, agora falava pela fragilidade da carne, da natureza humana caída.
Mas, entre o Monte da Transfiguração e o Monte do Sacrifício havia os vales, a serem evangelizados, a serem ministrados, onde os milagres ocorreriam, e pessoas seriam alimentadas física e espiritualmente, onde a verdade seria ensinada, e onde satanás seria confrontado. Ao descerem do Monte, no dia seguinte, ao descerem do silêncio, do retiro e da transfiguração se deparam com uma grande multidão, se deparam com um pai desesperado, se deparam com um jovem possesso. E, depois de repreender a falta de fé, repreende o espírito imundo, cura o menino e o entrega ao seu pai. E todos ficam atônitos com a grandeza de Deus.
Conclusão
Esse texto – e o seu contexto – nos traz ricos ensinamentos. Somos consolados, ensinados e exortados. Mas que aplicação podemos fazer do mesmo para os nossos dias? Quando vivemos a vida de um cristianismo confortável, um cristianismo de monte, quando buscamos curtir transfigurações, quando não buscamos um culto racional, mas um culto emocional, quando vivemos as igrejas-clubes de iguais, estamos seguindo o caminho de Jesus ou o caminho de Pedro? Ao fim e ao cabo, Pedro não teria vencido? A proposta dele não seria mais agradável? E o que dizer da proposta de Jesus e do caminho da cruz?
Que o Senhor nos abençoe!
Observação: Dom Robinson Cavalcanti faleceu em 26 de fevereiro de 2012 - um militante da justiça social, profeta da Missão Integral e amante da vida.